terça-feira, 13 de abril de 2010

O AMOR (Gibran Khalil Gibran)


Eu hoje acordei inspirada, com uma vontade maior que a normal, de dividir meus tesouros. Conheci este belo poema na minha adolescencia e ele foi passando de folha solta à caderno, de caderno à folha datilografada, depois xerocado inúmeras vezes... E um dia ele chegou até aqui, no dia em que abri minha velha caixa de memórias, à cata de algum bom momento, alí estava ele, numa folha já amarelada,dobrada com cuidado, aquele cuidado com que guardamos nossas preciosidades.

Quando o amor o chamar
se guie
embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados...
E quando ele vos envolver com suas asas
cedei-lhe
embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos...
E quando ele vos falar
acreditai nele
embora a sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim...
Pois da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica;
e da mesma forma que contribui para o vosso crescimento
trabalha para vossa poda;
e da mesma forma que alcança vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol
assim também desce até vossas raízes e a sacode no seu apego à terra...
Como feixes de trigo ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor a vossa nudez, Ele vos peneira para libertar-vos das palhas;
Ele vos mói até extrema brancura,
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis
então ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete divino...
Todas essas coisas o amor operará em vós para que conheçais os segredos de vossos corações,
e com esse conhecimento vos convertais no pão místico do banquete divino...
Todavia se no vosso temor procurardes somente a paz do amor, o gozo do amor,
então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez, abandonásseis a ira do amor
para entrar num mundo sem estações onde rireis, mas não todos os vossos risos,
e chorareis, mas não todas as vossas lágrimas...
O amor nada dá, senão de si próprio
e nada recebe, senão de si próprio...
O amor não possui nem se deixa possuir
pois o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga 'Deus está no meu coração'
mas que diga antes 'Eu estou no coração de Deus'...
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor pois o amor se vos achar dignos determinará ele próprio vosso curso...
O amor não tem outro desejo se não o de atingir a sua plenitude...
Se contudo amardes e precisardes ter desejos,
sejam estes os vossos desejos:
de vos diluirdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite;
de conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
de ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor;
e de sangrardes de boa vontade e com alegria;
de acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor;
de descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor;
de voltardes pra casa à noite com gratidão
e de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado
e nos lábios uma canção de bem-aventurança...





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