quinta-feira, 5 de novembro de 2009

MINHA VIDA QUERIDA (Malba Tahan)


Sobre o Autor: Júlio César de Melo e Sousa (Rio de Janeiro 06/05/1895 - Recife 18/06/1974), mais conhecido pelo heterônimo de Malba Tahan (Ali Iezid Izz-Edim Ibn Salim Hank Malba Tahan), foi um escritor e matemático brasileiro. Através de seus romances foi um dos maiores divulgadores da matemática no Brasil.
Ele é famoso no Brasil e no exterior por seus livros de recreação matemática e fábulas e lendas passadas no Oriente, muitas delas publicadas sob o heterônimo/pseudônimo de Malba Tahan. Seu livro mais conhecido, "O Homem que Calculava", é uma coleção de problemas e curiosidades matemáticas apresentada sob a forma de narrativa das aventuras de um calculista persa à maneira dos contos de "Mil e Uma Noites".
Minha vida querida é um livro lindíssimo, que vale a pena conhecer. Tomo a liberdade de transcrever, abaixo, uma das pequenas lendas que integram a obra, afim de deixar no caro leitor aquele leve gostinho de "quero mais"...

"O amor e o velho barqueiro
Chegando, afinal, à margem do grande rio, o Amor avistou três barqueiros que se achavam indolentes, recostados nas pedras.
Dirigiu-se ao primeiro: — Queres, meu bom amigo, levar-me para a outra margem do rio?
Respondeu o interpelado, com voz triste, cheio de angústia:
— Não posso, menino! É impossível para mim!
O Amor recorreu, então, ao segundo barqueiro, que se divertia em atirar pedrinhas no seio tumultuoso da correnteza.
— Não. Não posso — recusou secamente.
O terceiro e último barqueiro que parecia o mais velho, não esperou que o Amor viesse pedir-lhe auxílio. Levantou-se, tranqüilo, e, estendendo-lhe, bondoso, a larga mão forte, disse-lhe:
— Vem comigo, menino! Levo-te sem demora para o outro lado.
Em meio da travessia, notando o Amor a segurança com que o velho barqueiro barquejava, perguntou-lhe:
— Quem és tu? Quem são aqueles dois que se recusaram a atender ao meu pedido?
— Menino — respondeu, paciente, o bom remador — o primeiro é o Sofrimento; o segundo é o Desprezo. Bem sabes que o Sofrimento e o Desprezo não fazem passar o Amor!
— E tu, quem és, afinal?
— Eu sou o Tempo, meu filho — atalhou o velho barqueiro. — Aprende para sempre a grande verdade. Só o Tempo é que faz passar o Amor!
E continuou a remar, numa cadência certa, como se o movimento de seus braços possantes fosse regulado por um pêndulo invisível e eterno.
Sofrimento, desprezo... Que importa tudo isso ao coração apaixonado? O Tempo, e só o Tempo, é que faz passar o Amor."

2 comentários:

  1. Gostei muito sem contar que foi o único site que encontrei que tenha uma lenda desse livro ••• Me ajudou muito em meu trabalho de escola

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  2. Que ótimo, fico feliz em tê-lo auxiliado. Um dia, se tiver oportunidade, leia esse livro, tem outras lendas igualmente bonitas.

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