sábado, 5 de setembro de 2009

O LOUCO (Gibran Khalil Gibran)


Livro composto de várias parábolas árabes, que falam sobre as muitas maneiras de ser ou não ser louco.
O louco de Gibran, na realidade, não se trata do louco doente, paciente de psiquiatria, antes trata é do homem que se liberta do fardo de ser igual ao seu semelhante e descobre nessa libertação o quão maravilhoso é ser ele mesmo, livre de amarras, convenções. Trata do existir pleno. Um livro excelente, mas que deve ser lido de mente aberta, considerando-se que a literatura do oriente é um tanto diferente ao expressar-se.
Tomo a liberdade de transcrever um pequeno trecho dessa obra, cuja beleza poética fala de uma verdade que, no íntimo, todos nós carregamos.
"Perguntais- me como me tornei louco. Aconteceu assim: Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas - e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando: " Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: "É um louco!". Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: "Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!" Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós."

Um comentário:

  1. Grande sabedoria! Khalil...
    Leiam também "Loucos e Santos" de Oscar Wilde.
    Homens sábios...homens de ouro!

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